
Ao contextualizar o tema, o jurista pontuou como os avanços dos direitos trabalhistas incomodaram parcela da sociedade estadunidense em 1970. “A verdade é que a partir de 70, nós tivemos um processo de reorganização dos setores que se sentiram incomodados com esse paradigma social. Setores harmônicos com o liberalismo primitivo e que perderam a hegemonia”, explicou. Godinho lembrou os movimentos iniciados nos EUA, no governo de Richard Nixon, que tinham claro objetivo de barrar concessões. “Foi um momento, por exemplo, em que os meios de comunicação retratavam exatamente o que os donos do poder econômico desejavam e nesse sentido eles foram vitoriosos”, enfatizou.Nesse sentido, o ministro discorreu sobre o constitucionalismo humanista e social construído na Europa ocidental após a segunda grande guerra. “A única maneira de saber ou não se devemos seguir é olhar para a história”, afirmou. De acordo com Godinho, “é dessa forma que se pode refletir com maior consistência e segurança o cenário atual”. O ministro ressaltou a importância da Constituição Federal de 1988 ser baseada nos paradigmas das constituições europeias elaboradas após a primeira guerra. De acordo com o magistrado, princípios humanistas estão presentes nessas constituições em detrimento da constituição americana, fundamentada em um liberalismo arcaico oriundo do início do século XX. “A Constituição brasileira está focada no bem-estar social”, frisou.De acordo com o jurista, o Estado Democrático de Direito é formado na Europa no período pós-guerra, a partir de pontos essenciais: a valorização da pessoa humana e a implantação de um governo e de uma sociedade democrática e inclusiva. O magistrado ressaltou a relevância desse fundamento e refletiu com preocupação sobre o desaparecimento de alguns estudos na área acadêmica. “Curiosamente, estão sumindo dos cursos de formação da área de humanas matérias como fundamentos da economia e história da ciência política e história das ciências econômicas”, diz.Godinho recordou a necessidade de compreender o contexto de hegemonia ideológica dos EUA no Brasil atual. “A constituição americana enfatiza o paradigma da primeira fase do liberalismo, que é considerada primitiva, não é um paradigma de humanista social”, explica. O jurista reiterou que é a constituição europeia, na qual a brasileira é fundamentada, a trazer grandes pilares civilizatórios de um Estado Democrático de Direito. “Quem se baseia nos EUA se esvazia porque é baseado no estado liberalista primitivo”, explicou.Encerrando a conferência, a vice-presidente da Anamatra, Noemia Garcia Porto, que presidiu os trabalhos da mesa, falou sobre a importância da contextualização histórica. "O ministro, ao lançar uma narrativa sobre o passado, nos coloca qual é o nosso desafio que está em nossas mãos, magistrados, para o futuro", disse.Conamat - O Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat) acontece bianualmente e conta com participação de magistrados de todo o país. Em sua 19ª Edição, o evento, que acontece de 2 a 5 de maio, em Belo Horizonte, conta com a parceria da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 3ª Região (Amatra 3/MG) e reunirá cerca de 600 pessoas entre ministros, juízes, desembargadores, advogados, procuradores, estudantes de Direito e entidades da sociedade civil de todo o país para debater tema “Horizontes para a Magistratura: Justiça, Trabalho e Previdência”.As palestras estão sendo transmitidas ao vivo e ficarão disponíveis no canal TV Anamatra no Youtube. Inscreva-se e acompanhe: www.youtube.com/tvanamatra
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